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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Alcácer do Sal - aldeia da Carrasqueira - porta de "casa de mato"
A Carrasqueira é uma aldeia do concelho de Alcácer do Sal que se localiza na Reserva Natural do Estuário do Sado com acesso rodoviário pela estrada que liga Alcácer do Sal a Tróia, via Comporta.
Nesta pequena aldeia, encrostada no meio de uma grande herdade agrícola residem actualmente umas parcas centenas de pessoas, maioritariamente descendentes de trabalhadores migrantes que vieram ali parar integrados nos “ranchos” que constituíram - sobretudo entre os anos 40 e 70 do século passado - a fonte de abastecimento de mão-de-obra agrícola temporária sazonal.
Oriundos das mais diversas regiões do país, no Distrito de Setúbal, onde a Carrasqueira se insere, executavam sobretudo trabalhos ligados à acultura do arroz: nos meses de Abril a Julho, para a sementeira directa e plantação e Setembro / Outubro para a colheita e debulha do cereal, bem como trabalhos complementares diversos.
Terminadas essas tarefas agrícolas, a maioria regressava às suas terras de origem, mas alguns iam ficando como trabalhadores das herdades.
Para aí se instalarem os proprietários das herdades apenas permitiam que construíssem as suas habitações em materiais precários, que por esse facto não permitiam que fossem criados laços geradores de direitos adquiridos em termos de posse futura, continuando as terras a pertencer aos proprietários das herdades.
Neste contexto, a originalidade da Carrasqueira deriva do facto de os seus habitantes se terem voltado para o estuário do rio Sado, passando a explorar os seus recursos em paralelo ou complemento das suas actividades agrícolas.
Para contornar as marés, esta comunidade piscatória-agrícola instalou umas estacas de madeira onde assentam umas passadeiras de tábuas, dando assim origem ao aparecimento de um porto Palafítico que ainda existe e é bastante visitado.
Com o andar dos tempos, mormente após a nacionalização da herdade após o 25 de Abril de 1974, apareceram as primeiras construções em alvenaria, que só vieram a ser legalizadas posteriormente através da desanexação de uma parcela de terreno da herdade, por acção protagonizada ela Câmara de Alcácer do Sal.
Porém, quem hoje visita a Carrasqueira não pode deixar de reparar nessas poucas cabanas, algumas ainda hoje habitadas, que os moradores locais hoje designam um pouco depreciativamente por “casas de mato” ou “barracas”.
Estas construções - conforme me foi dado observar - são de formato rectangular, piso térreo e chão em terra batida, possuindo paredes interiores construídas em barro e revestidas a folhas de junco. Os juncos são fixados exteriormente às paredes por umas ripas ou barrotes de madeira, caiados de branco, que se distribuem de forma geométrica e harmoniosa, em contraste com o tom acinzentado dos juncos secos. Os telhados também são revestidos a folhas de junco.
Estas habitações, de aspecto primitivo, têm em geral duas portas, uma em cada topo, em madeira pintada de azul, bem como pequenas janelas de madeira igualmente pintadas de azul.
Fiquei encantado com o ar pitoresco destas construções da Carrasqueira - que visitei ontem - das quais vos deixo aqui uma pequena amostra, apelando à vossa curiosidade para uma merecida deslocação futura ao local bem como à urgente intervenção das autoridades locais de turismo para a sua salvaguarda.
Amanhã vou postar mais uma porta e uma janela.

2 comentários:

Abruxo disse...

... se tiverem tempo e pretenderem almoçar bem, não deixem de ir ao restaurante "A Escola", no lugar de Cachopos, ali a 5 minutos de carro, onde encontrarão comida regional alentejana de qualidade.
O restaurante tem esse nome por estar instalado numa antiga Escola Primária, estilo Estado Novo.

António Caeiro disse...

Excelente post!

E mais uma dica a ajudar na altura do almoço.

Houve uma altura em que se transformaram muitas escolas primárias em restaurantes... lá mais para baixo no Alentejo tb já vi algumas.